Ainda estimo o vaso de rosas que me deste. Tomo conta dele
como se ainda alguma coisa valesse a pena, como se ainda fizesse sentido tê-las
comigo.
Todas as manhãs, depois do pequeno-almoço, faço questão de
as tirar da varanda, traze-las até à cozinha e rega-las.
No meu ponto de vista acho que o que não fazia realmente
sentido nenhum era se me tivesse desfeito das flores. Flores tão bonitas, tão
desenvolvidas, tão queridas não podem pagar pelos nossos erros.
Neste momento
são flores como todas as outras, merecem o meu cuidado e a minha
responsabilidade. Não representam nada de extraordinário nem sequer se
distinguem das outras, neste momento todos os vasos são iguais, a terra é toda
a mesma e a água, com que rego todos eles, não se distingue. Vem tudo da mesma
torneira.
A única coisa que me vem à cabeça quando olho para elas é o
simples facto de elas ainda conseguiram ser mais fortes do que nós, e ainda se
aguentarem enquanto que nós… nós já nem sequer existimos.